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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Brasileira é um dos 100 candidatos a morar em Marte em 2025


:26  de  Fevereiro de  2015   postado  por  jrnewsbahia:


O dia de Sandra Silva parece ter mais horas do que o normal. A professora de 51 anos, que vive em Porto Velho (RO), ensina administração e sistemas de informação em uma universidade, atende em um escritório como advogada, faz design de aquários e escreve uma saga de ficção científica "à la Dan Brown" nas horas vagas. Em meio a todas estas atividades, ainda se prepara para ir à Marte, sem data para voltar. A brasileira é uma das cem finalistas no processo seletivo do polêmico projeto Mars One, da ONG holandesa homônima, que pretende começar uma colônia terráquea no planeta vermelho a partir de 2025. A empreitada envolve cientistas especializados em projetos de exploração espacial de 13 países e tem como um de seus maiores embaixadores o físico teórico Gerard 't Hooft, Nobel de Física em 1999. No entanto, o plano para levar o grupo de 24 pessoas até Marte tem sido criticado por instituições como o Massachussets Institute of Technology (MIT). Recentemente, engenheiros do instituto sugeriram mudanças no projeto, afirmando que os colonos poderiam começar a morrer após três meses no novo habitat. Sandra, no entanto, não demonstra receio. Fã do clássico de ficção científica Duna (saga ambientada em colônias humanas instaladas em outros planetas após o abandono da Terra) ela diz que sua paixão pela ciência pode levá-la até onde nenhum homem jamais foi. Até o início do ano, Sandra também ensinava Ciências a alunos do ensino médio na rede pública. "Eu sou apaixonada pelo negócio mesmo (pelo espaço), não tem jeito. Eu pensei muito, já tenho 51 anos. Sonhei minha vida toda em fazer isso, desde pequenininha. E se você se depara com a possibilidade de realizar seu sonho e não vai, isso é covardia pura", disse.
Confira os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil: O projeto enfrenta críticas e ceticismo dentro e fora da comunidade científica. Você acredita que uma colônia em Marte será possível?
Sandra Silva: Acho que não é uma questão de "se", mas de quando vai acontecer. O homem vai a Marte, isso é inevitável. Nesse momento, já sabemos que isso tem condições de ser feito. Vamos fazer uma colônia em Marte e quem sabe em 500 anos Marte vai estar formada, como a Terra. Mas tem que começar, senão não vai acontecer nunca. No Brasil, muitas pessoas não levam isso a sério. Elas não conseguem perceber que isso pode ser real, porque falta conhecimento, e tratam isso como piada. Acho ofensivo, porque são pessoas sérias, que trabalharam a vida inteira em projetos na área espacial. Não é brincadeira, é um projeto sério. Ninguém ia pegar US$ 6 bilhões para mandar pessoas para a morte. Quando eu me deparei com esse projeto na internet, também pensei "que maluquice será essa?". Mas resolvi ler mais a respeito e percebi que havia uma alta viabilidade técnica. Fui saber quem eram os responsáveis e vi que eram pessoas que já haviam trabalhado com a NASA, com a ESA (Agência Espacial Europeia), com a Agência Espacial Japonesa. Essas pessoas não são malucas, elas não iriam arriscar sua reputação para fazer algo que não fosse sério. Também disseram que chegar à Lua era impossível, mas a viabilidade técnica desse projeto é maior do que era a da Apollo 11. Quando lançaram a Apollo 11, aquele módulo lunar nunca havia sido testado. Quando entramos no processo seletivo, recebemos material para estudar e ficamos sabendo mais sobre os problemas que podem ocorrer. Nesse caso, diferentemente do caso da Apollo 11, toda a tecnologia que será utilizada é pré-existente. Tudo já foi testado e funcionou, nada será inventado agora. Por isso, a margem de erro é menor e é possível ter mais redundância (jargão técnico referente a um sistema com vários níveis sucessivos de segurança). Além disso, o projeto não é simplesmente enviar humanos para Marte. Antes disso serão enviadas oito naves com a mesma tecnologia, a partir de 2018, justamente para testar e verificar os possíveis problemas, para minimizar os riscos ao máximo. Eu li a crítica recente que o MIT fez sobre a viabilidade da colônia, mas acho que alguns detalhes técnicos da missão ainda precisam ser esclarecidos para se chegar a conclusões tão desastrosas como essa.
BBC Brasil: Como foi o processo seletivo do Mars One até aqui?
Sandra Silva: No início é preciso responder a um questionário bem grande, porque eles desenharam bem o perfil do indivíduo que querem para essa missão. É uma missão de colonização, então o perfil não é o mesmo de um astronauta normal. Por isso abriram para qualquer pessoa que tiver habilidades e interesse. Eles querem uma pessoa que tenha alguma coragem, que tenha resiliência e uma alta capacidade de adaptação, que saiba trabalhar muito bem em grupo e que possa confiar nas outras pessoas – porque você vai estar em situações em que sua vida vai depender do outro. Também temos que apresentar as razões pelas quais gostaríamos de participar. Na primeira etapa, eram mais de 200 mil candidatos e sobraram 1.058. Recebemos o resultado em dezembro de 2013. Depois começou a etapa física: recebemos uma lista bem grande de exames médicos com exigências específicas. Para você ter uma ideia, meu oftalmologista me atende há 40 anos e teve que fazer exames que nunca tinha feito em mim. Essa etapa diminuiu o número de candidatos para 600. E agora tive que fazer uma entrevista ao vivo pelo Skype com o doutor Norbert Kraft, que já selecionou astronautas para a Agência Espacial Japonesa e para a NASA. Não posso falar mais sobre a entrevista, porque nós assinamos um termo de não divulgação. Agora somos 100 candidatos, 50 homens e 50 mulheres.
BBC Brasil: O que torna você uma candidata forte para fazer parte da colônia em Marte?
Sandra Silva: Eu sabia que o páreo não ia ser fácil, mas me inscrevi seriamente, pensando em seguir adiante. Acho que a minha história de vida me fez desenvolver uma personalidade semelhante à que eles querem no projeto. Meu pai é advogado da União e foi transferido para Rondônia quando eu tinha nove anos. Quando viemos morar em Rondônia, não existia nada aqui. Nada mesmo. Um simples pé de alface a gente tinha que mandar buscar de avião, mas há coisas que não podíamos mandar vir. Então a gente tinha que construir, tinha que ter muita inventividade. Dependíamos da colaboração uns dos outros para sobreviver. Quando não há facilidades na sua vida, você acaba desenvolvendo a capacidade de lidar com situações extremas. Acho que eu desenvolvi essa capacidade. Como eu era criança, não conseguia identificar que aquilo era uma situação extrema. Desenvolver coisas, criar ferramentas, era algo perfeitamente natural. Para você ter uma ideia, não tinhamos energia elétrica o dia inteiro, só parte do dia. Na primeira vez em que minha irmã mais nova foi visitar nossos parentes em São Paulo, ela colocou velas na mala, porque pensou que podia faltar luz. A pessoa está inserida em um contexto no qual encara normalmente aquilo que para outras pessoas pode ser horrível. Hoje nós temos muitas facilidades aqui, mas não foi assim sempre. Na minha casa eu mesma troco instalações elétricas, substituo cimento quebrado. Eu aprendi e isso acabou me ajudando. Além disso, eu não consigo ficar parada. Durmo pouco, não tenho necessidade de muito sono. Estou sempre em uma atividade intelectual ou em uma atividade física. O contato com as pessoas do projeto é todo feito em inglês. Eu consigo ler e entender inglês, mas falar para mim é mais difícil. É por isso que estou tendo aulas de conversação todos os dias. Mas se você considerar que há um ano eu não falava nada e hoje já consigo conversar com eles, foi uma evolução radical.

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