A sociedade britânica está pagando um preço "alarmante" por não lidar de maneira adequada com problemas psicológicos que afetam gestantes e mães de bebês de até um ano. A análise é de um estudo feito pelo Centro de Saúde Mental da London School of Economics (LSE) que concluiu que, se contabilizados todos os nascimentos em um ano, há um custo a longo prazo de 8,1 bilhões de libras (o equivalente R$ 32,5 bilhões) proveniente de problemas psicológicos maternos, como a depressão pós-parto. Uma em cada cinco mulheres britânicas desenvolve algum tipo de distúrbio psicológico durante a gravidez ou nos meses após o nascimento do filho, diz o estudo. Depressão, ansiedade e problemas como esquizofrenia e bipolaridade são alguns dos riscos. O estudo afirma que esses problemas são de "importância vital" por prejudicarem o bem-estar da mãe e "causar danos na saúde emocional e no desenvolvimento cognitivo e até físico da criança". Dos 8,1 bilhões de libras gastos em decorrência desses problemas, um quinto é relativo ao setor público, incluindo o NHS (serviço público de saúde, equivalente ao SUS brasileiro) e a serviços sociais. Já o restante está relacionado a gastos mais amplos e indiretos, como a perda de emprego por conta da depressão materna.Investimento: O Ministério da Saúde britânico diz que vem investindo em treinamento de profissionais para lidar com problemas psicológicos maternos. Os autores do estudo, no entanto, criticam o que chamam de serviços e tratamentos "improvisados" em todo o país, acrescentando que metade dos casos de depressão não foram nem ao menos detectados e que muitas mulheres não recebem tratamento adequado. "Problemas psicológicos entre gestantes e mães são comuns e custosos", disse Alain Gregoire, chefe do Maternal Mental Health Alliance, instituto corresponsável pelo estudo. "A boa notícia é que as mulheres podem se recuperar totalmente quando recebem o tratamento adequado. Por isso, é vital que todas as mulheres recebam a ajuda especializada que necessitam."
Impacto nas crianças: A pesquisadora Annette Bauer, principal responsável pelo estudo, disse que as conclusões da pesquisa são "vitais" para a economia e para a sociedade como um todo. "Especialmente por conta do potencial impacto negativo que esses problemas podem ter nas crianças." "Para proteger a saúde da família no longo prazo, a intervenção precisa começar antes de a criança nascer, ou logo em seguida. Isso porque os benefícios são muito altos e os custos podem ser compensados em um curto período de tempo." O Ministério da Saúde britânico afirmou que no futuro todas as parteiras (que na Grã-Bretanha são responsáveis por partos de baixo risco e podem acompanhar as mães nos meses seguintes ao nascimento) terão treinamento para lidar com problemas psicológicos das mães.
Realidade brasileira: Segundo o estudo britânico, até 20% das mulheres desenvolvem algum tipo de problema psicológico durante a gravidez ou até um ano após dar à luz. No Brasil, os números são semelhantes. Embora não haja uma pesquisa ampla e nacional sobre o tema, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que a depressão materna foi detectada em 26% das mães entre 6 e 18 meses após o parto, sendo mais frequente entre as mulheres de baixa condição social e econômica, nas pardas e indígenas, nas mulheres sem companheiro, que não desejavam a gravidez ou que já tinham três ou mais filhos. "A depressão materna é um evento pouco diagnosticado e muito menos tratado. Poucos países adotam estratégia de rastreio de depressão durante a gestação e após o parto e, mesmo assim, sem cobertura universal, mesmo no Reino Unido", disse Mariza Theme, pesquisadora da Fiocruz responsável pelos dados relativos à depressão materna no estudo Nascer no Brasil. (BBC)
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