De "jovem gentil" a um assassino "frio e sádico". Como Mohammed Emwazi, vulgo "John", se radicalizou? Essa é a pergunta que os britânicos fazem um dia após ser revelada a identidade do jihadista do Estado Islâmico (EI) que aparece em vídeos macabros ameaçando e decapitando reféns. "Quero me tornar um jogador de futebol e marcar gols", dizia Mohammed Emwazi aos 10 anos de idade em seus registros acadêmicos publicados pelo jornal The Sun. O jornal também revela uma foto de turma em que ele aparece sorrindo, sentado de pernas cruzadas, uniforme vermelho e colarinho branco, entre seus companheiros. "O aspecto, talvez, mais impressionante na jornada do jihadista John, o homem mais procurado do mundo, é como ele era uma pessoa comum em sua juventude", ressalta o Daily Telegraph. Emwazi nasceu no Kuwait em 1988. Seus pais, Jasem e Ghaneya, instalaram-se na capital britânica em 1993, após a primeira Guerra do Golfo, quando ele tinha seis anos, de acordo com relatos da imprensa. Em Londres, a família Emwazi, "pacífica e educada", segundo um ex-vizinho, seguia uma vida tranquila no oeste da cidade. Seu pai dirigia uma empresa de táxi, enquanto sua mãe era dona de casa. O jovem Emwazi era um londrino típico, que brincava com seus amigos e parecia "não estar focado na religião naquele tempo", segundo descreveu um antigo colega, citado pelo Telegraph. A radicalização - Bom aluno, com ótimas notas em ciências exatas, Emwazi ingressou na Universidade de Westminster em 2006, no curso de informática. Durante o curso, ele mantinha, pelo menos inicialmente, uma reputação de jovem "gentil e polido", com uma "propensão para a moda". Mas seu comportamento começou a mudar, sinal, talvez, de um início de radicalização: deixou a barba crescer e evitava contato visual com mulheres. O ano de 2009 parece ter sido um ano crucial para Emwazi, que começou a despertar a atenção do serviço de inteligência interno britânico, conhecido pela sigla MI5. Depois de se formar, mudou-se para a Tanzânia com dois amigos, justificando que faria um safári. Mas, em Dar es Salaam, foi preso por um curto período, após as autoridades locais receberem, aparentemente, instruções de Londres, que temia que ele tentasse viajar à Somália. Ele então retornou para a Europa via Amsterdã, na Holanda. De acordo com seu próprio relato, divulgado pela Cage, uma organização de defesa dos direitos dos muçulmanos com sede em Londres, ele passou a ser assediado pelo MI5, que teria tentado recrutá-lo. Interrogado por um agente secreto sobre a guerra no Afeganistão, ele respondeu: "O que eu acho? É que tenho visto inocentes sendo mortos todos os dias nos jornais". Em seguida, Emwazi seguiu para o Kuwait, seu país de origem, para viver com a família de sua noiva. Mas em maio de 2010 ele retornou para Londres. A inteligência britânica estava convencida de que havia algo suspeito em Emwazi. De acordo com documentos judiciais citados na imprensa britânica, o jovem tinha relações com o "London Boys", uma rede extremista próxima da Al Shabab, um grupo radical islâmico da Somália. Em Londres, Emwazi também passou a visitar Bilal al-Berjawi, um combatente radical que mais tarde foi morto em um ataque com drone em janeiro de 2012, na Somália. No início de 2012, Emwazi tentou novamente sair do país, mas as autoridades britânicas conseguiram evitar, antes que ele desaparecesse. No ano seguinte, porém, ele conseguiu deixar a Grã-Bretanha e foi para a Síria. "Nos últimos dois anos ele subiu na hierarquia da organização Estado Islâmico e passou a desempenhar um papel importante entre os combatentes estrangeiros", de acordo com o The Guardian. Como muitos jihadistas, mudou seu nome. Adotou a alcunha de "Abu Abdullah al Britani" e se fixou em Raqa, reduto do EI na Síria. "Lembro-me de vê-lo várias vezes", contou um ex-membro do EI citado pelo Guardian. "Para nós, era o inglês que matava pessoas". "Um tipo frio, sádico e impiedoso", descreve um ex-refém.
Caçada - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu nesta sexta usar todos os meios a seu dispor para caçar militantes como Mohammed Emwazi. "Sempre que houver pessoas em qualquer lugar do mundo que cometam crimes assombrosos e hediondos contra cidadãos britânicos, faremos tudo que pudermos com a polícia, com os serviços de segurança, com tudo que temos à nossa disposição, para encontrar essas pessoas e tirá-las de circulação", disse o premiê. Cameron se recusou a falar especificamente da revelação da identidade do jihadista "John", mas afirmou que as pessoas deveriam apoiar os serviços de segurança, que elogiou dizendo serem totalmente dedicados a defender a Grã-Bretanha. (Veja)
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